INSS: volta presencial mostra fragilidades e necessidade de concurso

Com volta do atendimento presencial nas agências, INSS tem filas e situação aponta fragilidades e necessidade de concurso.

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Publicado em:14/09/2020 às 11:40
Atualizado em:14/09/2020 às 11:40

Parte das agências do INSS começaram a retomar os atendimentos presenciais nesta segunda-feira, 14. Mas, apesar das restrições e agendamentos, as unidades tiveram filas e perícias suspensas. 

Toda a situação evidencia a fragilidade do Instituto Nacional do Seguro Social, tanto em questões estruturais quanto de recursos humanos. Vários segurados que estavam com atendimento marcado não foram atendidos. [tag_teads]

Um dos problemas foi a falha na comunicação. Após as perícias serem suspensas, a autarquia federal não conseguiu avisar a todos que estavam com atendimento marcado antes que eles chegassem nas agências. 

Em entrevista ao portal de notícias G1, o presidente do INSS, Leonardo Rolim, se desculpou pelo ocorrido e reconheceu a falha nos processos de comunicação. 

Isso, no entanto, evidenciou como o INSS ainda depende dos processos e atendimentos presenciais e como os serviços prestados apenas de forma remota não são o suficiente. 

Seja por falhas tecnológicas ou mesmo por falhas humanas. Afinal, a maior parte dos segurados são pessoas mais velhas e muitos não sabem usar as ferramentas digitais. 

E também, por parte do INSS, o quadro reduzido de servidores prejudica o gerenciamento desses atendimentos de forma adequada. O último concurso INSS foi em 2015 e estima-se um déficit de mais de 20  mil cargos vagos.

INSS
Agências do INSS reabrem com filas, problemas de comunicação e sem peritos
(Foto: Reprodução)

Médicos peritos recusaram voltar às agências

Fora a falha na comunicação, o problema que resultou na suspensão das perícias é que os médicos peritos do INSS decidiram não retomar as atividades presenciais ainda, por conta da falta de recursos adequados para atuar. 

Apenas 12 das mais de 800 agências com serviço de perícia foram aprovadas em vistorias realizadas pela entidade. Muitas nem tinham os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). 

Com isso, a autarquia precisou suspender as perícias que já estavam agendadas. Mas o processo de comunicação falhou e muitos segurados não receberam a mensagem antes de chegarem às unidades de atendimento. 

A Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais (ANMP) divulgou um comunicado informando que os profissionais não iriam retomar os atendimentos. 

"Mesmo com todo o alarde da pandemia, ainda tínhamos agências sem EPI (Equipamentos de Proteção Individual) até o presente, dentre diversos outros problemas. (...) Abrir apenas estas agências e manter fechadas as demais é inviável do ponto de vista gerencial e operacional e causaria potencial caos nas cidades devido a riscos de sobrecarga de demanda."

Vale lembrar que a reabertura das agências é feita de forma gradual. Em um primeiro momento, elas atendem apenas segurados agendados para evitar aglomerações

Além disso, como destacou o presidente Leonardo Rolim, “só as atividades que tem que ser presenciais são disponibilizadas agora.” E o INSS continua atendendo remotamente.

INSS vai concluir estudo para concurso até maio de 2021

Este ano o INSS não enviou pedido de concurso público ao Ministério da Economia, como fizeram outros órgãos vinculados ao Poder Executivo Federal que precisam de autorização da pasta para fazer contratações. 

A autarquia informou que vai realizar um redimensionamento do quadro de pessoal até maio de 2021, de modo que um edital para efetivos possa ser estudado para sair no ano seguinte

O último pedido de concurso foi encaminhado em 2018, solicitando o provimento de cerca de 10 mil vagas, sendo mais de 2 mil referente ao concurso anterior (que ainda estava vigente na época, mas já perdeu a validade) e 7.888 vagas em um novo edital. 

A solicitação contemplava 3.984 vagas de técnico (nível médio), 1.692 vagas de analista (nível superior) e 2.212 vagas de médico perito (nível superior). Confira as vagas do último pedido:

TÉCNICO ANALISTA MÉDICO PERITO
- Escolaridade: nível médio
- Nº de vagas: 3.984
- Remuneração: R$5.186,79 
- Escolaridade: nível superior
- Nº de vagas: 1.692 vagas
- Remuneração: R$R$7.659,87 
- Escolaridade: nível superior em Medicina 
- Nº de vagas: 2.212
- Remuneração: R$12.683,79

 

Mas o número de vagas que serão contempladas em um próximo edital ainda é uma incógnita. Já que o Instituto irá fazer um redimensionamento do quadro.

Este ano, para tentar lidar com o grade déficit de servidores, o INSS realizou um processo seletivo com o objetivo de contratar mais de 7 mil aposentados e militares da reserva. Eles atuariam, temporariamente, numa força-tarefa para tentar reduzir a fila de benefícios. 

Mas aconteceu que a Câmara dos Deputados não aprovou a Medida provisória que permitia esse tipo de contratações e a medida falhou. Menos da metade de profissionais previstos foram efetivamente contratados.

Entenda: Concurso INSS temporários contrata apenas 2,9 mil e déficit permanece

Pandemia evidenciou necessidade de concurso INSS

Há anos é discutida a necessidade de realização do concurso INSS, já que a autarquia sofre com déficit grave de pessoal. Mas a pandemia do novo Coronavírus evidenciou ainda mais os problemas. 

Um deles é o envelhecimento do quadro. Um a cada cinco servidores do Instituto já atingiram a idade para pedir aposentadoria e podem fazer isso no próximo período, em 2021. 

O resultado disso é que muitos dos profissionais do quadro, com idade mais avançada, estão no grupo de risco da Covid-19. E isso refletiu até mesmo nas decisões sobre retomada do trabalho presencial. 

Isso somado ao cenário de urgência da pandemia, que não permitiu tempo para adaptação em nenhuma área, aumentou a sobrecarga de trabalho, que já era grande e ficou ainda mais intensa.

Com um déficit estimado em mais de 20 mil cargos vagos, os servidores do INSS vem trabalhando desde 2019 para normalizar a fila de benefícios, que já chegou a atingir 2 milhões. 

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